Entenda as Diferenças no Acúmulo de Gordura: O Impacto no Metabolismo de Homens e Mulheres

As mulheres possuem maior acúmulo de gordura corporal do que os homens, com predominância de gordura subcutânea, especialmente na região glúteo-femoral. Essa distribuição ajuda no armazenamento de energia e pode melhorar o metabolismo da glicose, oferecendo uma proteção contra o diabetes tipo 2 na pré-menopausa. Já os homens costumam acumular gordura visceral na região abdominal, o que aumenta o risco de doenças metabólicas.

A gordura subcutânea fica localizada logo abaixo da pele, enquanto a gordura visceral se acumula ao redor dos órgãos internos, como fígado, pâncreas e intestinos. A gordura subcutânea serve como um reservatório de energia e, embora excessiva, não afeta diretamente o funcionamento dos órgãos. Por outro lado, a gordura visceral é mais metabolicamente ativa e secreta substâncias inflamatórias e hormônios que podem prejudicar a função dos órgãos, especialmente o fígado e o pâncreas, levando a doenças metabólicas como resistência à insulina, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares.

Vamos entender como é o processo de acúmulo de gordura

O acúmulo de gordura ocorre quando o corpo armazena mais energia do que gasta, geralmente devido a uma ingestão calórica superior ao gasto energético. Esse excesso de energia é convertido em gordura e armazenado principalmente no tecido adiposo, que pode aumentar de volume tanto por hipertrofia (aumento do tamanho das células de gordura) quanto por hiperplasia (aumento no número de células de gordura). Quando a ingestão de alimentos é maior do que o necessário para as funções básicas do corpo, o excesso é transformado em triglicerídeos e armazenado no tecido adiposo, com maior acúmulo na gordura subcutânea ou visceral, dependendo de fatores como genética, hormônios e estilo de vida.

O aumento dos depósitos de gordura no corpo é um processo complexo e ainda não totalmente compreendido.

A gordura pode se expandir por hipertrofia (aumento do tamanho das células) ou hiperplasia (aumento do número de células), dependendo do tipo de depósito e do sexo.

A hipertrofia é comum no tecido adiposo abdominal, enquanto a hiperplasia ocorre mais na coxa.

Em homens, a hipertrofia é predominante, enquanto em mulheres, a hiperplasia é mais frequente.

A adipogênese, que é a formação de novas células de gordura, ocorre ao longo da vida, com renovação de cerca de 10% dos adipócitos por ano. O aumento dos depósitos de gordura também é influenciada pela entrega de lipídios e pelo equilíbrio entre a formação e a perda de gordura. Além disso, os hormônios sexuais desempenham um papel importante, afetando as diferenças na distribuição de gordura entre os sexos.

Principais diferenças entres as mulheres e os homens

diferenças na distribuição de gordura corporal entre os sexos

  • Distribuição de Gordura: As mulheres tendem a acumular mais gordura subcutânea, especialmente na região glúteo-femoral, enquanto os homens apresentam maior acúmulo de gordura visceral, particularmente na região abdominal. A gordura subcutânea nas mulheres está associada a uma menor resistência à insulina e a um risco reduzido de doenças metabólicas, ao passo que a gordura visceral nos homens está diretamente ligada a um aumento na resistência à insulina e ao desenvolvimento de diabetes tipo 2.

 

  • Hiperplasia vs. Hipertrofia: O tecido adiposo feminino é caracterizado por hiperplasia (aumento do número de células adiposas), o que resulta em uma maior capacidade de armazenamento de gordura em comparação com os homens, que apresentam hipertrofia (aumento do tamanho das células adiposas). Esse fenômeno é especialmente evidente na região femoral das mulheres, que possui uma maior quantidade de células precursoras adiposas.

 

  • Efeitos dos Hormônios Sexuais: Os hormônios sexuais, como o estrogênio e a testosterona, têm papéis distintos no comportamento do tecido adiposo. O estrogênio promove a proliferação de precursores adiposos e favorece a distribuição de gordura subcutânea nas mulheres, o que, em parte, protege contra doenças metabólicas. Por outro lado, a testosterona nos homens está associada ao aumento da gordura visceral e à redução da gordura subcutânea, fatores que elevam o risco de resistência à insulina.

 

  • Metabolismo Lipídico: A gordura visceral em homens libera ácidos graxos livres que podem ser utilizados pelo fígado, o que está relacionado ao desenvolvimento de resistência à insulina e, consequentemente, ao diabetes tipo 2. Em contraste, a gordura subcutânea nas mulheres libera ácidos graxos livres na circulação sistêmica, que são mais regulados por hormônios, oferecendo uma proteção relativa.

 

  • A leptina e a adiponectina são adipocinas essenciais para o controle do metabolismo e da homeostase energética, com diferenças significativas entre homens e mulheres.
    • Leptina: Produzida pelo tecido adiposo, a leptina tem um papel importante na regulação do apetite e do metabolismo energético. Ela sinaliza ao cérebro, que o corpo tem energia suficiente armazenada, suprimindo o apetite e promovendo a oxidação de ácidos graxos. Em mulheres, níveis mais elevados de leptina estão frequentemente associados a uma maior quantidade de gordura subcutânea, particularmente na fase reprodutiva. No entanto, em condições de obesidade, pode ocorrer resistência à leptina, o que resulta em um aumento do apetite e redução do gasto energético, contribuindo para a progressão de doenças metabólicas.
    • Adiponectina: A adiponectina tem efeitos opostos à leptina, promovendo a sensibilidade à insulina e ajudando na captação de glicose pelas células. Ela também possui propriedades anti-inflamatórias, que são fundamentais na redução da inflamação sistêmica frequentemente presente em estados de obesidade. A adiponectina está em níveis mais altos em mulheres do que em homens, o que pode contribuir para uma menor propensão ao desenvolvimento de resistência à insulina nas mulheres, especialmente na pré-menopausa. No entanto, após a menopausa, quando os níveis de estrogênio são mais baixos, à medida que a gordura visceral aumenta, a concentração de adiponectina tende a diminuir, o que pode contribuir para o aumento do risco de doenças metabólicas.
    • Implicações Metabólicas: As diferenças nas concentrações e na ação de leptina e adiponectina entre os sexos têm implicações significativas para o risco de doenças metabólicas, incluindo diabetes tipo 2 e síndrome metabólica. Mulheres na pré-menopausa, com maior concentração de adiponectina e leptina, podem ser mais protegidas contra o desenvolvimento dessas condições, enquanto homens, com maior acúmulo de gordura visceral, estão mais propensos a enfrentar problemas de resistência à insulina e outros distúrbios metabólicos. A compreensão dessas diferenças é importante para o desenvolvimento de estratégias de prevenção e tratamento que considerem as variabilidades biológicas entre os sexos.

Em resumo, a compreensão dessas diferenças sexuais na função do tecido adiposo é fundamental para o desenvolvimento de abordagens mais eficazes na prevenção e tratamento de doenças metabólicas, como o diabetes tipo 2, com foco na saúde de homens e mulheres de acordo com suas necessidades biológicas distintas.

Fonte:

Gavin KM, Bessesen DH. Sex Differences in Adipose Tissue Function. Endocrinol Metab Clin North Am. 2020 Jun;49(2):215-228. doi: 10.1016/j.ecl.2020.02.008. Epub 2020 Apr 16. PMID: 32418585; PMCID: PMC7921847.

Jensen MD. Visceral Fat: Culprit or Canary? Endocrinol Metab Clin North Am. 2020 Jun;49(2):229-237. doi: 10.1016/j.ecl.2020.02.002. Epub 2020 Apr 9. PMID: 32418586.

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Nutricionista Vanessa Lobato
Nutricionista Especializada em Fisiologia do Exercício pela UNIFESP
Nutricionista Especialista em Fitoterapia pela Santa Casa
Especializanda em Nutrição Esportiva e Obesidade pela USP
Pós-graduanda em Neurociências pela UNIFESP